Wednesday, November 03, 2004

A QUEDA DE UM IMPÉRIO





Não, não é o título do último filme da saga Guerra nas estrelas, mas sim o que estamos prestes a assistir nos próximos dias com o resultado das eleições americanas.Em 1972, Mick Jagger disse que o mais justo seria o mundo inteiro ter direito a voltar para a presidência norte americana, uma vez que são os síndicos do mundo.Faz sentido, porém como o direito a votar para presidência ainda não foi estendido aos estrangeiros, as eleições serão mesmo decidida pelo voto daquele povo facista, racista, sexista, xenófobo só para citar a eiva mais amena.Vemos aos borbotões passeatas nos E.U.A contra a guerra e contra o governo e temos a impressão de que o povo americano está progredindo, revendo valores, tornando-se mais politizado, mais consciente de que seus problemas não se resumem a suas vidinhas confortavelmente entorpecidas pela burrice e conformismo, e sim que algo devia ser feito pelo bem do país e do mundo.Ocorre que essas demonstrações de consciência e humanismo que nos remete à época do “make love don’t war”não passavam de fenômenos isolados;se restringiam a cidades tradicionalmente politizadas e com uma significativa concentração de artistas e intelectuais, como Nova York e San Francisco.Fora das grandes cidades costeiras, o que resta é o centrão que vem a ser a maior parte do país.É nessa região que se concentra um grande percentual de stupid white men que davam título ao livro de Michael Moore.Com esse livro, Moore tornou público para todo o mundo o perfil do americano médio:aquele sujeito de classe média alta, que não está muito preocupado com o que se passa além dos limites de sua paróquia, não sabe localizar a Costa rica no mapa, pensa que o Brasil é uma selva, e que a Bélgica fica na França.Não é muito afeito à leitura, cultura não é seu forte porém o consumo exacerbado é sua válvula de propulsão, é o sentido da vida, pouco se importando que no continente africano, um adulto consome um terço das calorias de uma criança patrícia.Esse é o perfil da extrema direita americana, o eleitor do partido republicano, que certamente crê que a parva figura que se encontra no poder é a mais indicada para comandar os Estados Unidos e por tabela o mundo por mais quatro anos.O que não quer dizer que o partido democrata represente uma política externa justa, perdão da dívida de países pobres, fim de intervenções militares em lugares miseráveis com o único objetivo de arrasar mais uma economia como garantia de que nem tão cedo ameaçará sua hegemonia e de quebra lucrar com a extração de sua riqueza natural.Mas pelo menos agora o candidato democrata por menos carisma que tenha, certamente é um líder muito mais competente do que o mr. Bush o que convenhamos não é muito difícil.Os E.U.A têm vários pontos em comum com o Brasil:o ensino é precário, a esquerda só é esquerda no nome, os investimentos na ares da saúde pública são uma vergonha, os políticos não são confiáveis...a diferença é que no Brasil existe uma política de manutenção do atraso, da estagnação, para que as coisas continuem como estão beneficiando uma oligarquia, já lá em cima a política é de manutenção do progresso, para criar uma imensa classe média consumista e não pensante, enquanto uma elite se torna cada vez mais rica, como os acionistas da indústria petrolífera na atual gestão.A indústria petrolífera, junto com a bélica e a siderúrgica, são consideradas a razão da permanência desta toupeira no poder, já que sua equipe de governo possui vários acionistas dessa chamada velha economia, mas na verdade, o governo Bush atende aos anseios de toda a macroeconomia americana e não só o velho paradigma, mas também a nova economia, inclusive a Microsoft de Bill Gates é amplamente beneficiada pelos asseclas de Bush.

Só mesmo amparado pelo poder supremo das grandes corporações um governante que apresenta todo um retrocesso em diversos setores pode se tornar o primeiro republicano reeleito em vinte anos, o que isso representa? a continuação de uma política externa tolhida, intervenções estapafúrdias, administração interna desastrosa e numa combinação de fatores intrínsecos e extrínsecos poderíamos estar assistindo a queda do terceiro grande império ocidental, atolado em problemas causados por eles próprios, se vendo invadidos pelos visigodos modernos que atendem pela alcunha de Al-Qaeda, e colocando os bofes para fora na concorrência com a emergente China e com a atual detentora da moeda mais forte do mundo, a União Européia, que só não suplantou o Tio Sam, por que sua eterna parceira Grã-Bretanha antevendo a possível derrocada da pátria co-irmã, se absteve da moeda única para que a coisa não degringolasse de vez.Em suma, ganhe quem ganhar, o império está seriamente ameaçado.

César Monteiro

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