Wednesday, March 25, 2009

Como diria a minha colega Patrícia Kogut, uma nota zero bem redonda para o canal por assinatura Multishow que prometeu exibir o show do Radiohead, do Kraftwerk e do Los Hermanos ao vivo de São Paulo e na verdade exibiu os shows com delay (aquilo não era ao vivo) e ainda por cima editadíssimos, só os hermanos escaparam da tesoura. O show do Kraftwerk passou pela metade, no do Radiohead somente dez das vinte e cinco músicas do repertório foram mostradas. Bolas, se TV por assinatura serve justamente para exibir uma programação segmentada que a TV aberta não tem espaço (ou interesse) para exibir, por que essa economia porca lesando quem não pôde ir ao show ou foi, mas quis reviver cada momento? E quem assina o canal justamente para ter transmissões na integra e não depender dos cortes desrespeitosos feitos pelos canais abertos quando se propõem a exibir eventos dessa natureza, como fica? O certo (até porque foi o que deu para depreender da propaganda) era exibir os três shows integralmente, mas já que era para sacrificar, que fosse o aperitivo, e não o prato principal. Show dos Los Hermanos já foram exibidos pelo canal, do Radiohead apenas um show editado de algum festival europeu de alguns anos atrás, merecíamos ver a apresentação em Sampa sem cortes. Nota zero.

Sunday, March 22, 2009

CATARSE



Valeu a espera: quinze anos depois de estourar no mundo inteiro com seu lamento nerd de Creep e doze anos após conquistar corações mentes fãs e críticas com Ok Computer, o Radiohead finalmente fez seu primeiro show em solo brasileiros levando fãs da banda (e da boa música) a uma experiência de catarse coletiva que levará tempo para ser esquecida. Muita gente já havia perdido as esperanças de ver o quinteto de Oxford por aqui, a recompensa pela espera veio em forma de mais de duas horas de música de altíssima qualidade. A noite já começou bem, é verdade, com a volta do grupo carioca Los Hermanos, que apesar de estarem fazendo o papel de banda de abertura fez um show de headliners com boa resposta do público (tinha gente ali só por causa deles), o único senão foi uma certa falta de química, compreensível devido ao tempo separados e focados em seus respectivos projetos individuais (como a banda Little Joy de Rodrigo Amarante em parceria com o Fabrício Moretti dos Strokes e a carreira solo de Camelo).
Em seguida entraram sem atraso os alemães do Kraftwerk. A banda fez um show impecável com o seu Kling Klang, usina de som composta por sintetizadores e computadores (agora fininhos laptops), projeções sincronizadas com as músicas e claro, os robôs que substituem os músicos na clássica We Are The Robots. A apresentação podia ser um pouco maior, mas o rigoroso cronograma quase expulsou os quatro do palco, quando as luzes da apoteose se acenderam com a banda ainda no palco. Enfim, com dez minutos de atraso em relação ao programado, entra em cena o prato principal. Com 15 step, que abre o ultimo trabalho do grupo In Rainbows, começou a apresentação da banda que pode ser considerada a maior dessa geração se for levado em conta o fator prestígio+relevância. Embora calcado no último trabalho, não faltaram no repertório hits bem conhecidos pelos fãs como Karma Police, cantada em uníssono, No Surprises, National Anthem, Idioteque, Everything Is In The Right Place, músicas tiradas dos dois discos mais inspirados da banda, Ok Computer e Kid A. A oferta de canções desses álbuns foi mais generosa na América Latina pelo fato de nunca terem vindo aqui e as músicas de In rainbows fizeram bonito, All I Need, Jigsaw Falling Into Place, Weird Fishes/Arpeggi, Body Snatchers e House of Cards foram muito bem recebidas. Tom Yorke esquisitão como sempre até chegou a esboçar uma certa simpatia, parecia um pouco surpreso ao ver a reação do público que acompanhava suas letras como se fossem falantes nativos do inglês. A comunhão palco-platéia fez o evento parecer um grande encontro ecumênico campal que teve como ponto alto o épico hipnótico Paranoid Android, talvez uma das melhores músicas dos anos 90. A última música foi um brinde para os latino americanos, Creep não era mais executada, mas abriram uma exceção para os espectadores de primeira viagem. Uma noite memorável, certamente um dos melhores shows que já passaram por aqui.

Sunday, March 15, 2009

APOTEOSE METALEIRA


Show do Iron Maiden é como Rolling Stones e Paul McCartney: muito previsível, sem surpresas, todo mundo sabe exatamente o que vai acontecer, e justamente por isso é divertidíssimo. É como na época de infância que a gente queria ver o mesmo desenho 20 vezes e achava o maior barato, assim é o público de rock clássico em geral, principalmente de Heavy Metal. Se os cinco tios do metal não apresentassem pirotecnia, bonecos gigantes, a mascote Eddie adentrando o palco, certamente o público sairia decepcionado. Nesta sétima passagem da banda pelo Rio (oitava pelo Brasil), a Donzela de ferro proporcionou tudo isso, além do carisma de Bruce Dickinson, dos solos e presepadas de Janick Gers, do baixo preciso do chefe Steve Harris, que colocou a cria Lauren Harris para abrir os trabalhos, os super competentes Dave Murray e Adrian Smith formando uma parede de guitarras e a pancadaria usual do baterista Nico McBrain. O show começou pontualmente na hora marcada, 21 e 30 com imagens do avião da banda Ed Force One nos dois telões nas bordas laterais do palco. A primeira música Aces High levou os milhares de fãs ao delírio, embora o som estivesse meio baixo e embolado no começo da apresentação. Daí seguiu uma seqüência de hits, todos da fase anos oitenta, a era de ouro da banda. Wrathchild, Two Minutes to Midnight, The Trooper, Wasted Years do fraco Somewhere in Time de 86 que inspirou o título da turnê, Somewhere Back In Time, todas cantadas em uníssono pelo público predominantemente masculino e bastante jovem, a maioria não era sequer nascida quando a banda lançou o primeiro álbum ainda com o vocalista Paul Dianno ou mesmo quando aportaram no Brasil pela primeira vez no Rock In Rio em 85. Claro que também não faltou o coro de Fear of the Dark, a única dos anos 90, Iron Maiden, com direito a um Eddie gigante e mumificado surgindo de dentro de uma esfinge soltando fogos pelos olhos e, claro, The Number Of The Beast. Depois de duas horas de muito rock pesado o público parecia de alma lavada. Dickinson prometeu voltar ao país em 2011 e o séquito de fãs fiéis já anotou na agenda, alguma dúvida?

Tuesday, March 10, 2009

Falando em Radiohead posto aqui a letra da música que para mim é uma das mais belas dos anos 90. Do magistral disco Ok Computer(onde a banda mostra realmente a que veio), No Surprises carrega a tradição de músicas um tanto fúnebres, mas que alcançam o fundo da alma, do rock britânico. É só lembrarmos de The Smiths, Echo And The Bunnymen, The Cure, Suede para exemplificar
No Surprises
A heart that's full up like a landfill,
a job that slowly kills you,
bruises that won't heal.
You look so tired-unhappy,
bring down the government,
they don't, they don't speak for us.
I'll take a quiet life,
a handshake of carbon monoxide,
with no alarms and no surprises,
no alarms and no surprises,
no alarms and no surprises,
Silence, silence.
This is my final fit,
my final bellyache,
with no alarms and no surprises,
no alarms and no surprises,
no alarms and no surprises please.
Such a pretty house
and such a pretty garden.
No alarms and no surprises (get me outta here),
no alarms and no surprises (get me outta here),
no alarms and no surprises, please

Ainda há ingressos para os shows do Rio(Praça da Apoteose) do time dos sonhos da música: Radiohead, Kraftwerk e a volta do Los Hermanos. Imperdível para quem gosta de boa música.Quem não garantiu apresse-se!

Monday, March 02, 2009

No Line On The Horizon


Eis que finalmente chega às lojas o novo disco da que é considerada a última das grandes bandas, o U2. Falou-se muito em revolução. Chegaram a gravar com o produtor Rick Rubin, requisitado por artistas que querem investir em um som mais “pesado”, mas as faixas foram descartadas e No Line On The Horizon (a banda se especializou em títulos longos para seus álbuns)foi produzido pelos velhos de guerra Brian Eno, Daniel Lenois e Steve Lillywhite, que assinaram os discos mais bem sucedidos da banda, inclusive o último, responsável pela renovação do público do quarteto irlandês. Mas não há nada de novo no horizonte. Ouvimos aqui (para o bem ou para o mal) exatamente toda a fórmula usada pelo U2 ao longo desses 31 anos.
A faixa de abertura lembra um pouco a fase Achtung baby/Zooropa, com guitarra cortante de The Edge, a levada lembra o lado b do single de One, Lady With The Spinning Head. Magnificent apresenta uns efeitos anos 80 que o U2 não usava nos anos 80, mas logo se revela uma típica música da banda, até meio previsível para quem acompanha o trabalho do quarteto de longa data. Momento of surrender é longa e com pretensões épicas. Unknown Caller é a que mais lembra o U2 dos anos 80, mais na primeira metade da década, em trabalhos como War(1983) e The Unforgettable Fire(1984). Curiosamente o primeiro single Get On Boots destoa um pouco do resto do disco. Enquanto o álbum de uma maneira geral remete aos 80 essa faixa se aproxima dos últimos trabalhos, há uma semelhança perceptível com Vertigo(só faltou o ôô ô ô ô). Embora tenha sido escolhida como o boi de piranha nas rádios do mundo inteiro, é uma das músicas menos inspiradas do pacote. Depois da pesadona e de letra cáustica Stand Up Comedy, vem Fez-Being Born tem clima oriental, diferente de Mystirious ways, tem um andamento semelhante ao de The Hands That Built America. Breath era para ter ficado de fora, entrou no álbum na última hora, é bela e também tem um leve clima oriental, com alguma influência de Kashimir do Led Zeppelin e o disco fecha com a bela Cedars of Lebanon. A impressão que fica é que o U2 até pensou em ousar, mas preferiu prestar um tributo ao seu legado e encher o álbum de referências, talvez até um pouco auto-indulgentes, mas que vão alegrar muito os fãs. E em julho começa a turnê que pode passar pelo Brasil ainda no fim de 2009 ou início de 2010. Que não se repita a falta de planejamento da demanda da venda de ingressos do último show da banda por aqui nem a bisonha organização das vendas do recente show de Madonna.