Wednesday, November 03, 2004

AS PORTAS DA PERCEPÇÃO NO SÉCULO 21



AS PORTAS DA PRECEPÇÃO NO SÉCULO 21


A despeito das reticências por parte do público, sobretudo os mais fanáticos, o the Doors saiu em turnê mundial com sua nova formação, contando com o ex-cult Ian Astbury e dois músicos de apoio, dentre os quais o baterista, substituindo John Densmore que depois de se unir aos outros dois companheiros para um show tributo onde vários vocalistas se alternavam inclusive o atual, se recusou a sair em turnê, por considerar uma afronta e se uniu à família do falecido para impedir que Ray manzareck e Robbie Kriegger usassem o nome The Doors.Como saída colocaram um of the 21st century e ta tudo bem.
O público que lotava o Claro hall(que saudades de quando se chamava metropolitan) era majoritariamente jovem, os coroas marcaram presença mas em menor número.Seria então o Doors uma banda de apelo estritamente juvenil cujos fãs estão sempre se renovando(como Iron Maiden e Ramones)? talvez, mas o que importou foram as 2 horas quase transcendentais proporcionadas pela banda.E daí que Jim Morrison não estava ali, a maioria do público não era nem esperma quando ele morreu, a única chance de ver os L.A boys era sem o lagartão, talvez os maiores de 45 tivessem maiores razões para lamentar, mas naquela época quem vinha ao Brasil?
Eis que ás dez e meia uma voz emerge no sistema de som da casa de espetáculos:ladies and gentleman, from Los Angeles Califórnia THE DOORS. Logo seguida de Redhouse Blues.Como nos anos 60, como nas gravações ao vivo através das quais a nova geração pode ver um dos vocalistas mais carismáticos da história da música mundial.A apoteose estava instaurada.A banda estava afiada, o entrosamento de Ray e Robie está intacto, a cozinha nova é eficiente e Ian evitou pagar mico emulando Jim Morrison.Começou o show um tanto afetado com trejeitos do predecessor, talvez numa síndrome de Val Kilmer, mas já pela quinta música ele encontrou seu tom, era ele mesmo, mas sem perder a aura nostálgica de reverência do recinto, até por que se formos lembrar da época do cult a performance de Ian lembrava muito a de Jim a influência era inegável, mas agora para não ficar caricato ele até deu uma moderada.
Mas o show foi mesmo dos dois remanescentes, sobretudo Ray, o mais aplaudido na apresentação dos integrantes,cuja realização pessoal era visível ao ouvir os gritos em coro do seu nome, gritos esses que há trinta e cinco anos se dirigiam ao vocalista.Ray fez questão de deixar claro quem estava no comando agora.Se levantava, falava com o público, tudo era regido pela sua batuta, inclusive seus solos nas músicas, bem como os de Robie estavam um tantinho mais longos. A banda não tem músicas inéditas, portanto o show foi um desfiladeiro de hits para lavar a alma dos fãs: Love me to times, Not to touch the earth foi de congelar a espinha, Alabama song, five to one precedida de um discurso engajado à moda dos manifestos contra a guerra do Vietnam, ajudando a compor o clima De volta para o passado, Break on through foi a bola fora do show; rolou a tradicional macumba pra turista com a entrada da bateria da Mocidade que atravessou o ritmo de forma letífica. O que ocorre é que esses gringos chegam aqui, querem ir logo para alguma quadra de escola de samba, aí tomam umas cachaças, se encantam pelas gostosas que sambam em trajes sumários, acham tudo Wonderful e resolvem logo levar os sambistas para fazer jam session no show. Tudo bem que a intenção de fazer algo experimental e de quebra agradar a platéia local é boa, mas quase nunca é bem sucedida (lembra de desire com a bateria do salgueiro na popmart?) e eles parecem não saber que o roqueiro brasileiro principalmente os mais
jovens, são as criaturas mais anti-cultura nacional que existem(para não dizer colonizadas) e não gostam nem um pouco. Light my fire contou com uma inserção de Eleanor Rigby no meio do solo e com a volta de dois dos ritimistas que desta vez não atrapalharam muito. Soul Kitchen encerrou o show, com a presença no palco de umas patricinhas da Barra que provavelmente foram lá por que alguém disse que ia bombar, uhu!! e não por serem fãs ardorosas, mas enfim, saldo mais do que positivo e as suspeitas de que seria uma fraude como o show dos Pistols há oito anos atrás felizmente não se confirmaram e em meio à mesmice do rock atual, ver dinossauros em ação é um privilégio.Eu não confio em ninguém com menos de trinta.


César Monteiro

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