Wednesday, November 03, 2004

FESTIVAL DO RIO EM REVIEW

Terminou no último dia sete o festival de cinema do Rio de Janeiro, e conforme a tradição, o número de público aumentou em relação ao do ano passado, contudo, como muitos espectadores compraram seus ingressos antecipadamente, não houve muita confusão mesmo no eixo Estação botafogo-Espaço Unibanco, o coração do festival. No geral a edição deste ano foi superior à do ano passado, que apesar de ter tido uma variedade farta de bons títulos, não apresentou um Grande filme. A edição de 2004 teve como principal atração o novo filme de Pedro Almodóvar A má educação(La mala educación), o filme mais visto do festival, que não contou com o vencedor da palma de Cannes como de costume já que a película em questão é Farenheit 9/11 de Michael Moore, que entrara em cartaz em agosto. Os apressadinhos lotaram as sessões de Kill Bill vol.2 que estrearia dali a duas semanas e a criançada pode conferir em primeira mão a nova animação da Dreamworks Espanta tubarão. Outro filme muito prestigiado foi Vera Drake, de Mike Leigh, vencedor do leão de Veneza e o chinês Zhang Yimou surpreendeu a todos com suas novas incursões no mundo wuxia:Hero e House of the flying daggers encheram os olhos do público que lotou as respectivas sessões.O festival contou também com uma retrospectiva do cineasta Sergio Leone, que transformou o gênero Western Spaggettti em cult e a mostra ficção científica onde foi exibida a versão do diretor de Alien:O oitavo passageiro que estava programada para entrar em circuito no início do ano mas foi descartada devido ao fiasco nos cinemas americanos.Vamos a um resumo do que rolou de melhor e de pior no festival:


OS MELHORES FILMES:
House of the Flying daggers:Obra prima de Zhang Yimou ,de Lanternas vermelhas,o sorgo vermelho e outros filmes mais intimistas restritos ao circuito de arte, House supera o anterior, Hero. A saga medieval chinesa apresenta uma direção de arte primorosa, figurinos de deixar qualquer Clodovil se rasgando de inveja e uma direção de fotografia digna de servir como parâmetro e isso tudo sem contar com as cenas de lutas acachapantes e os efeitos especiais que não ficam devendo em nada a produções Hollywoodianas.Deverá entrar em circuito, porém é coisa para 2005.
Hero: primeira incursão de Yimou no ramo das artes marciais,foi aclamado por público e crítica e se tornou a maior bilheteria na China até então, só perdendo o posto para o atual House of the flying daggers.Delírio visual com destaque para as diferentes temperaturas de cor e tonalidades de fotografia usadas para discernir passagens distintas. Garantido para dezembro
Ramones-End of the century:Documentário sobre os Beatles do underground, que apesar do prestígio não venderam milhões nem ficaram ricos.De abordagem sensível, sem rasgação de seda nem sujeira empurrada pra de baixo do tapete, mostra até o motivo pelo qual Joey e Johnny ficaram sem se falar de 1981 até a morte.Deleite para os fãs e boa pedida para quem gosta de rock ou de um documentário bem conduzido.
Cold light:Um tanto obscura, essa produção islandesa passou praticamente incólume pelo grande público, que perdeu um filmes superior a muita coisa que fora disputada a tapa. A história do estudante de artes que se apaixona pela professora, faz um balanço da infância traumática que o leva a dar um rumo diferente do planejado a priori, é intimista, envolvente e cativante. O cinza, azul e branco das paisagens da terra de Björk prestam uma ajuda inestimável à fotografia para compor o clima da película.
Corações e mentes:documentário de Peter David de 1974 mostra o que havia por trás da guerra do Vietnã.Interessante notar que sua retórica foi trinta anos depois emulada por Michael Moore e triste constatar que o filme ainda é atual e se trocarmos o Vietnã pelo Iraque a diferença não seria notada.

O QUE COLOU:
A consagração do Odeon, cinemão com C maiúsculo, como epicentro do festival;
A mostra isto é Bollywood, que exibiu aqueles blockbusters made in Bombaim que arrastam multidões aos cinemas indianos(o que não é muito difícil em se tratando de um país tão populoso).Trata-se de filmes que mais parecem desenhos da Disney live action: coloridíssimos e pontuados por números musicais por vezes meio bregas mas sempre muito divertidos, a diferença é que ao contrário das produções da casa do Mickey estes filmes são quilométricos.Mas foi uma ótima oportunidade de conferir esses filmes que quase nunca são lançados no mercado estrangeiro;
A mostra Sérgio Leone, que chega a ser redundante dizer o motivo pelo qual coloco-a nesta lista; qualquer filme de Sergio Leone visto no Odeon é uma experiência ímpar;
A mostra De volta para o futuro que nos deu a oportunidade de ver(para os mais velhos rever)na telona filmes como Alien, Blade Runner, Planeta dos macacos e 2001-Uma odisséia no espaço, cuja exibição no Odeon foi um verdadeiro acontecimento;
Zhang Yimou, cineasta chinês egresso dos filmes de arte mostrando à Hollywood como ser comercial sem perder a ternura.


O QUE NÃO COLOU:
O atendimento na venda antecipada de ingressos que continuou pífia;
A não vinda de filmes que arrebentaram em Cannes como Old boy;
As legendas eletrônicas que mais confundiam do ajudavam;
A organização da mostra De volta para o futuro com filmes de ficção científica que não cumpriu o objetivo de ser o equivalente à mostra dos musicais que lotou o Odeon no ano passado.Alguns filmes tiveram exibição às moscas, outros tinham a cópia tão sofrível que dava dó e nem todos foram exibidos no Odeon, ficando restritos à sala do MAM com sua projeção so-so e suas cadeiras desconfortáveis e barulhentas.

Cesar Monteiro





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