Wednesday, November 03, 2004

Arte ou entretenimento?



Existe uma bifurcação categórica que ordena os filmes em dois gêneros:filmes de arte e filmes de entretenimento. Ocorre que a linha que separa os dois segmentos é deveras tênue, ora se o cinema é por si só uma manifestação artística, filmes chamados de entretenimento também se enquadram nessa designação. Tomando por base uma elucidação doutrinária, filmes de arte são aqueles que desencadeiam no espectador uma visão crítica, um pensar relevante ou ainda, que revele um conceito artístico e estético jamais visto, ao menos não da forma apresentada. Já os filmes de entretenimento têm por único desígnio divertir, sem fazer pensar, apenas proporcionar ao espectador alguns minutos de diversão sem muito compromisso para mais tarde ser esquecido quase que por completo. Filmes de arte costumam ter orçamento reduzido e se focar mais nos diálogos e no desenvolvimento dos personagens, enquanto filmes de entretenimento, possuem um orçamento muito maior e distribuição idem, valorizam mais a ação, a comédia e os efeitos especiais do que os personagens e são feitos como um produto para ser consumido e gerar lucro.Mas não deixam de trazer em seu âmago um valor artístico, por menor que seja, uma vez que por mais que os executivos e os produtores imponham sobre o cineasta toda uma aritmética nefasta visando à usura o diretor antes de mais nada é um artista que fará de tudo para imprimir a sua marca e colocar uma mensagem ou conteúdo de caráter reflexivo, mesmo que pouquíssimos compreendam, e isso já os permite serem considerados, de certa forma, como filmes de arte, daí a denominação gera dubiedade, até por que para muitos (nos quais me incluo) os chamados filmes de arte também podem ser divertidos.Dentro do conceito de filme de arte, poderíamos citar como exemplo, As invasões bárbaras, a trilogia de Kristoff Kieslowiski, alguns filmes de Pedro Almodóvar, toda a filmografia de Stanley Kubrick e Glauber Rocha, entre outros. Exemplo de filmes de entretenimento tem aos borbotões, mas vamos nos ater aos melhores:Os Goonies, Viagem insólita, Jurassic Park e outros.Porém pouco se reconhece que entreter também pode ser uma arte, que se dominada e bem aplicada pode gerar filmes muitas vezes melhores do que muitos filmes cabeça. Convenhamos que proporcionar emoções em doses certas, mesmo que frívolas, não é tarefa das mais fáceis (algum crítico de arte se arriscaria?).Será que um cineasta polaco (munido de um orçamento milionário é claro) conseguiria nos brindar com uma sequência como a das bicicletas voadoras de E.T.com o mesmo brilhantismo de um Steven Spielberg? Daí surgiria uma terceira categoria:a arte do entretenimento, na qual se embocam filmes como Guerra nas estrelas, Superman-o filme, a trilogia Indiana Jones, o primeiro Matrix e a saga do Senhor dos anéis. Contudo existem também os filmes imbuídos de um verniz artístico mas não passam de películas enfadonhas, sem conteúdo e que nada dizem, mas ainda assim conquistam estudantes de cinema, pseudo-intelectuais e afins. O maior exemplo são os filmes da Miramax, principalmente aqueles que são indicados ao Oscar. No final das contas, mais vale um bom e honesto filme de entretenimento do que uma farsa rotulada como arte.
César Monteiro


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