Sunday, June 28, 2009


No filme Simonal, Ninguém Sabe O Duro Que Dei, dirigido pelo Casseta Claudio Manuel (o Seu Creysson) não fica muito claro se afinal ele foi um coitado ou um traidor. O tom do documentário é muito mais em prol da causa do cantor do que investigativo, no sentido de apurar todos os detalhes de uma das histórias mais controversas da música popular brasileira. Entre os depoimentos há os pró (a maioria) os em cima do muro (como o Ziraldo) e os contra (apenas o contador que teria sido seqüestrado pelo DOPS a mando de Simonal). O que se pode depreender dali é que todos têm um lado bacana e outro bem filho da puta. Simonal aprontou algumas, mas aliado da ditadura? Se assim fosse ele teria sido cooptado e teria sua imagem ainda mais massificada, não teria implodido daquele jeito. A verdade é que no Brasil daquela época os negros eram classificados em dois grupos: Preto Si Sinhô e Preto Tu (também conhecido como Preto Oba). O Preto Si Sinhô era tolerado, era o Pai Tomaz, representava a figura do bom escravo, subserviente, que sabia o seu lugar mesmo que tivesse ascendido na vida. Era o caso do Pelé, do Jair Rodrigues. Já o Preto Tu, ah, esse era insolente, metido a besta, folgado, não sabia o seu lugar. Esse ninguém tolerava. Era o Simonal. O cara vendia mais do que Roberto Carlos, levava multidões a ginásios, era muito para um crioulo. Daí, quando a classe artística passou a vê-lo como traidor, a elite branca a favor da ditadura também não tomou partido e deixou aquele neguinho se foder, foi isso. Agora, foi engraçado nos anos noventa no Jô Onze e meia (ainda no SBT) ver Simonal em sua campanha para limpar sua imagem, campanha essa que durou toda a década, e ao final da entrevista justificou sua fama de dedo duro entregando o fato de a apresentação dos artistas no final do programa era gravada antes e não ocorria no na sequência logo após a conversa do entrevistado. Graças ao Simonal, o Jô hoje nem esconde mais, joga a atração ali no telão, sem fingimento e pronto.

No comments: