Sunday, June 28, 2009

Fim da era das lojas de discos

O fim da Virgin Megastore em Nova York me entristeceu profundamente, não apenas por saber que quando eu voltar lá terei menos um lugar para visitar, mas porque representa o fim de uma era. As lojas de disco estão acabando, é uma fechando atrás da outra numa velocidade tamanha que talvez daqui a cinco anos, ou menos, nem existam mais. Aqui no Rio há dez anos deviam existir umas 20 lojas de disco no centro da cidade, hoje eu conto três (sendo que uma é só de usados). Claro, as formas de se consumir música vão mudando com o tempo: no século XIX a pessoa teria que ter um piano em casa (ou violino, ou o que fosse), ter alguém que soubesse tocar, claro, e comprar a partitura em uma loja especializada, onde também se vendiam instrumentos. Com o advento da indústria fonográfica, já não era mais necessário possuir instrumentos ou saber tocar, bastava uma vitrola e um disco de vinil, que depois evoluiu para o cassete que não substituiu, apenas houve um convívio pacifico, até chegar o cd que aposentou os bolachões. Todas essas formas de se consumir música eram feitas mediante pagamento, agora em pleno século XXI você tem a alternativa de não pagar nada, apenas baixa um arquivo da rede mundial de computadores. Claro, é muito prático você ter o disco que quiser na hora que quiser, mas a embalagem é tão legal, com encarte, letra, ficha técnica onde você vê quem compôs o que, quem tocou o que. As lojas de disco para mim são verdadeiros templos, não de consumo, mas de troca. Um dos pilares da minha formação em cultura musical foram as lojas de discos. Lembro-me das tardes que eu passava revirando prateleiras, conversando com o dono da loja sobre o disco que estava tocando no som, tendo verdadeiras aulas de história do rock com os clientes que eram habitués como eu e geralmente quarentões, cinqüentões e eu ali ávido por aprendizado. Não há internet que substitua esse rico intercâmbio cultural. E o prazer incomensurável de encontrar aquela raridade, aquele bootleg, aquela edição limitada, não há download que ative tamanha produção de dopamina (substância produzida pelo cérebro responsável pela sensação de recompensa, ela geralmente é liberada quando você come chocolate ou alguém). Mas pra melhor ou para pior as coisas mudam, e hoje se você não se contenta com a música intangível baixada da internet com seus ridículos 320kbps e quer algo com mais sustância, deve ir ou a uma livraria (como Saraiva, Travessa), ou uma loja de departamentos (Americanas, Fnac). Loja de discos (só de discos) pelo menos aqui no Rio ainda resistem bravamente a lendária e careira Modern Sound e a Satisfaciton, onde montei boa parte de minha cdteca e aprendi muito sobre rock dos anos sessenta e setenta, ambas em Copacabana. E que Deus as mantenha.

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