Sunday, January 04, 2009


Como dizem os críticos, em tempos em que a mediocridade domina a indústria cinematográfica é mais que um alento saber que há um Woody Allen em plena atividade. Sem dúvida, por menos inspirado que seja uma película sua, será sempre um filme no mínimo imperdível. Seu Vicky Cristina Barcelona (que, por milagre, não demorou a estrear por aqui, como vinha acontecendo com filmes de Woody Allen) a que só fui assistir ontem não foge à tradição de filmes de qualidade do cineasta, mas confesso que algumas coisas me incomodaram. A primeira coisa, não sei se foi impressão minha, mas não me pareceu um filme autoral. Claro que é possível identificar várias de suas peculiaridades, há os conflitos humanos, tanto externos quanto internos, há a mulher neurastênica, há a forma engenhosa de se contar a história, mas fica a impressão de que o filme foi feito muito mais para promover a cidade de Barcelona e o roteiro ficou meio que em segundo plano. Diga-se de passagem, a cidade podia ter sido mais explorada pelo diretor de fotografia Javier Aguirressarobe(responsável pela belíssima fotografia de Mar Adentro de Alejandro Amenabar). Faltou talvez o carinho com que Gordon Willis fotografou Nova York natal de Woody em Annie Hall e Manhatan, ou a pompa com que o inglês Remi Adefarasin (que depois assinou magistralmente a fotografia de Elizabeth a era de ouro) enquadrou Londres em Match Point (aquela tomada da vista do apartamento onde Chris e Chloe vão morar é uma das melhores do filme). Outra coisa que me incomodou foram os estereótipos: O latin lover irresistível, a espanhola sangue quente explosiva em constante ataque de nervos (mas cá pra nós, Penélope Cruz está ótima no papel), talvez Woody tenha assistido a muitos filmes de Almodóvar ultimamente, inclusive a cena do beijo a três é Almodóvar até o celulóide. Para o fato de ser um filme promocional há uma explicação: Woody Allen não filma mais em Nova York. É caro, não há incentivo a produções quase independentes como seus filmes nos E.U.A, por isso o cineasta se mudou de mala e cuia para a Europa, onde foi muito mais bem acolhido, fez três filmes consecutivos na Inglaterra. Hoje Woody filma onde houver proposta, nesse caso Barcelona fez a oferta, se o Rio se candidatar é bem possível de haver um filme de Woody Allen passado no Rio de Janeiro, fico imaginando a minha cidade captada pela lente de um dos meus cineastas favoritos. Quanto ao roteiro fica claro que Woody escreveu Vicky Cristina Barcelona em uma madrugada, mas ainda assim teve um bom resultado, ficando patente que se trata de um mestre. No conjunto é um bom filme, mas não chega a ser o melhor dos últimos dez anos como ouvi dizerem, Melinda Melinda e Match Point ganham de lavada, mas é bem superior ao anterior, Sonho de Cassandra, às comédias do início da década e, claro, leva a marca Woody Allen.

1 comment:

Anonymous said...

Coincidência cara, assisti ontem também! Abraço